sábado, 3 de janeiro de 2009

A palmada

Uma viúva ou um órfão ; haverá mais comovente?
Um velho amigo de escola, tendo morrido sem filhos,
Deixou neste mundo uma surpreendente esposa,
Indo eu fazer uma visita à desesperada
Não sabendo, depois, como terminar a noitada
Fiz-lhe companhia na câmara-ardente.

Para conter as suas lágrimas, para acalmar as suas dores,
Pus-me a contar balelas e ditos espirituosos,
Todos os meios são bons para sarar as almas…
Rapidamente, graças a estas pilhérias,
A viúva as mãos sobre os quadris, graças a Deus!
Riamos tal e qual dois perdidos.

O meu cachimbo saía um pouco do meu casaco,
De modo agradável, incentivou-me : enchei-o!
Que nenhum imperativo moral o pare!
Se o meu pobre marido detestava o tabaco
Agora já nem o fumo o incomoda.
-Mas, onde pus eu, a minha cigarrilha?

A meia-noite, com uma doce voz de serafim
Perguntou-me se não tinha fome.
-Fazia-o voltar, acrescentou,
Prolongar a piedade até a inanição?
Que diríeis vós de uma frugal consoada?
Tomamos uma pequena ceia à luz dos círios.

Olha como é belo! Parece apenas dormir.
Ele ao menos, não diria que não tenho razão
Em afogar a minha dor numa cascata de Champanhe.
Quando terminamos o segundo Magno,
A viúva comovida, em nome do pequeno Jesus
O seu espírito pronto a começar a batalha…

Meu Deus, o que apenas somos… !
Suspirava sentando-se no meu colo.
E após ter colado o beiço ao meu lábio
-Agora fico tranquila! Disse ; tinha medo
que, debaixo do teu bigode tipo sapador
não escondesses um lábio-rachado.

Bigode tipo sapador! O meu bigode? Imagina!
Essa comparação merecia uma palmada.
Levantei-lhe a saia, e sem dizer mais nada
Seguro de cumprir, com certeza, o meu dever
Mas fechando os olhos para demais não ver
Paf ! Sentiu a mão da vingança cair sobre a sua nádega.

Aí ! Partiu-me o rabo em dois!
Gemeu e eu, beijei-lhe a testa, envergonhado,
Temendo ter batido de modo exagerado, brutal
No entanto, mais tarde, vim a saber, o que me entusiasma
Que o dito, assim era já à bastante tempo
Mentirosa! A racha simplesmente congénita…

Quando levantei a mão, pela segunda vez
Já quase sem vontade, tinha perdido a fé
Sobretudo, ela era requintada a marota!
-O amigo reparou que eu tinha um magnífico cu?
A mão da vingança caindo, sem malícia…
O terceiro golpe, nada mais foi que carícia.

Traduction arrangée du texte original en français
"La fessée"
George Brassens

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