quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Parasitas

No meio de uma feira, uns poucos de palhaços
Andavam a mostrar em cima de um jumento
Um aborto infeliz, sem mãos, sem pés, sem braços,
Aborto que lhes dava um grande rendimento.

Os magros histriões, hipócritas, devassos,
Exploram assim a flor do sentimento,
E o monstro arregalava os grandes olhos bassos,
Uns olhos sem calor e sem entendimento.

E toda a gente deu esmola aos tais ciganos :
Deram esmola até mendigos quase nus.
E eu ao ver aquel quadro, apóstolos romanos,

Eu lembrei-me de vós, funâmbulos da Cruz,
Que andais pelos universo, há mil e tantos anos,
Exibindo e explorando, o corpo de Jesus.

A Velhice do Padre Eterno
Guerra Junqueiro

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