As pedras falam? Pois falam
mas não à nossa maneira,
que todas as coisas sabem
uma historia que não calam.
Debaixo dos nossos pés
ou dentro da nossa mão
o que pensarão de nos?
o que de nos pensarão?
As pedras cantam nos lagos
choram no meio da rua
tremem de frio e de medo
quando a noite é fria e escura.
Riem nos muros ao sol
no fundo do mar se esquecem.
Umas partem como as aves
e nem mais tarde regressam.
Brilham quando a chuva cai.
vestem-se de musgo verde
em casa velha ou em ponte
que saiba matar a sede
Foi de duas pedras duras
que a faísca rebentou
uma germinou em flor
e a outra nos céus voou.
As pedras falam? Pois falam.
Só as entende quem quer,
que todas as coisas têm
uma coisa para dizer.
Maria Alberta Menéres
sábado, 31 de outubro de 2009
quarta-feira, 28 de outubro de 2009
Painel
Terra lavrada e pintada
Com a ponta da charrua.
Tela nua
Colorida.
Onde um gesto compassado,
Sagrado,
Semeia a vida.
Miguel Torga
Com a ponta da charrua.
Tela nua
Colorida.
Onde um gesto compassado,
Sagrado,
Semeia a vida.
Miguel Torga
sábado, 24 de outubro de 2009
COMEÇO A CONHECER-ME. NÃO EXISTO
Começo a conhecer-me. Não existo.
Sou o intervalo entre o que desejo ser e os outros me fizeram, ou a metade desse intervalo, porque também há vida...
Sou isso, enfim...
Apague a luz, feche a porta e deixe de ter barulho de chinelos no corredor...
Fique eu no quarto só com o grande sossego de mim mesmo... é um universo barato.
Álvaro de Campos
Sou o intervalo entre o que desejo ser e os outros me fizeram, ou a metade desse intervalo, porque também há vida...
Sou isso, enfim...
Apague a luz, feche a porta e deixe de ter barulho de chinelos no corredor...
Fique eu no quarto só com o grande sossego de mim mesmo... é um universo barato.
Álvaro de Campos
INSTANTE
A cena é muda e breve:
Num lameiro
Um cordeiro
A pastar ao de leve;
Embevecida
A mãe ovelha deixa de remoer;
E a vida
Pára também, a ver.
Miguel Torga
Num lameiro
Um cordeiro
A pastar ao de leve;
Embevecida
A mãe ovelha deixa de remoer;
E a vida
Pára também, a ver.
Miguel Torga
sábado, 17 de outubro de 2009
NIHIL ET CONSOLAMENTUM
A esponja
O peso de uma esponja aumenta
Proporcionalmente ao número
De gotas de agua que ela
Absorve
Mas nenhuma esponja pode
Absorver
Toda a água deste mundo
Quando uma esponja esta
Saturada
Ninguém pode prever
O comportamento da água
Que ela já não absorve
Nem o comportamento
Do mundo
É preciso imaginar no entanto
Uma esponja que absorveria
Toda a água do mundo
Metê-la-íamos
No lugar do nosso lenço
No bolso do coração
Seria-mos o barco
Seria-mos o sal
Seria-mos
Todos os rios
Do mundo que desaguam
no céu
Uma esponja é
Como uma mala pura
Que conteria todos
Os nossos caminhos
Cada vez que nós
Compramos uma mala
Julgamos que ela
Vai diminuir o peso
Do necessário que
Arrumamos dentro
A mala ideal consiste em
Diminuir
O peso do que nós em ela
Transportamos
Até só pesar o seu
Peso de mala
Ou a vir a ser mais ligeira
Do que era
A partida
A ponto de nem mais existir
Numa esponja ideal
Pode-se
Arrumar inteiro o mar
Se a pomos no
No bolso do coração
Numa mala ideal
Pode-se arrumar todo
O universo
A tropa engolida das
Estrelas
Uma só formiga
Um só amor
Num poema
Pode-se arrumar
Todo futuro
Que desejaríamos
Fazer existir
L’esponga
Lo pés d’una esponga creis
Rapòrt amb la nombre
De gotas d’aiga
Que bèu
Mas cap d’esponga non pòt
Beure
Tota l’aiga del mond
Quand una esponga es
Confla
Degun pòt pás prevéser
L’anar de l’aiga
Que pòt pás mai beure
Ni mai l’anança
Del mond
Pr’aquò cal imaginar
L’esponga que beuriá
Tota l’aiga del mond
La botariam
En la placa del nòstre mocador
Al recanton del còr
Seriam batèl
Seriam sal
Seriam
Totes los flumis
Del mond que dins lo cèl
S’alargan
Una esponga es
Coma una maleta blosa
Que cabriá totes
Los nòstres camins
Cada còp que
Crompam una maleta
Cressem
Que dels afars
Qu’i estremam
Ne dermesirà lo pes
La maleta ideala permet
D’abaissar
Lo pés de çò
Qu’i carrejan
Fins a pesar sonque
Lo pés de la maleta
O de venir mai leugièra de çà
Qu’éra aperabans
Fins
A non pas existir mai
Dins una esponga ideala
Podem estremar
La mar tota
Se la placam dins lo sacon
Del cor
Una maleta ideala
Pòt caber tot
L’univèrs
La sòla aprefondida
De las estrelas
Una formiga soleta
Un sol amor
Dins un poema podem
Estremar
Tot l’avenidor
Que voldriam far
èsser
bâtons et poemes cathares
SERGE PEY
Délit Editions
O peso de uma esponja aumenta
Proporcionalmente ao número
De gotas de agua que ela
Absorve
Mas nenhuma esponja pode
Absorver
Toda a água deste mundo
Quando uma esponja esta
Saturada
Ninguém pode prever
O comportamento da água
Que ela já não absorve
Nem o comportamento
Do mundo
É preciso imaginar no entanto
Uma esponja que absorveria
Toda a água do mundo
Metê-la-íamos
No lugar do nosso lenço
No bolso do coração
Seria-mos o barco
Seria-mos o sal
Seria-mos
Todos os rios
Do mundo que desaguam
no céu
Uma esponja é
Como uma mala pura
Que conteria todos
Os nossos caminhos
Cada vez que nós
Compramos uma mala
Julgamos que ela
Vai diminuir o peso
Do necessário que
Arrumamos dentro
A mala ideal consiste em
Diminuir
O peso do que nós em ela
Transportamos
Até só pesar o seu
Peso de mala
Ou a vir a ser mais ligeira
Do que era
A partida
A ponto de nem mais existir
Numa esponja ideal
Pode-se
Arrumar inteiro o mar
Se a pomos no
No bolso do coração
Numa mala ideal
Pode-se arrumar todo
O universo
A tropa engolida das
Estrelas
Uma só formiga
Um só amor
Num poema
Pode-se arrumar
Todo futuro
Que desejaríamos
Fazer existir
L’esponga
Lo pés d’una esponga creis
Rapòrt amb la nombre
De gotas d’aiga
Que bèu
Mas cap d’esponga non pòt
Beure
Tota l’aiga del mond
Quand una esponga es
Confla
Degun pòt pás prevéser
L’anar de l’aiga
Que pòt pás mai beure
Ni mai l’anança
Del mond
Pr’aquò cal imaginar
L’esponga que beuriá
Tota l’aiga del mond
La botariam
En la placa del nòstre mocador
Al recanton del còr
Seriam batèl
Seriam sal
Seriam
Totes los flumis
Del mond que dins lo cèl
S’alargan
Una esponga es
Coma una maleta blosa
Que cabriá totes
Los nòstres camins
Cada còp que
Crompam una maleta
Cressem
Que dels afars
Qu’i estremam
Ne dermesirà lo pes
La maleta ideala permet
D’abaissar
Lo pés de çò
Qu’i carrejan
Fins a pesar sonque
Lo pés de la maleta
O de venir mai leugièra de çà
Qu’éra aperabans
Fins
A non pas existir mai
Dins una esponga ideala
Podem estremar
La mar tota
Se la placam dins lo sacon
Del cor
Una maleta ideala
Pòt caber tot
L’univèrs
La sòla aprefondida
De las estrelas
Una formiga soleta
Un sol amor
Dins un poema podem
Estremar
Tot l’avenidor
Que voldriam far
èsser
bâtons et poemes cathares
SERGE PEY
Délit Editions
sexta-feira, 9 de outubro de 2009
A pulga
Um ponto somente
É este animal
Que pouco se vê
E muito se sente
E a gente não gosta
Da pulga
Porquê?
A pulga,
Afinal
Só de animais gosta
E gosta da gente.
A gente que o diga...
Gosta, morde e pica.
Mas que rica amiga!
Pica
Por ser má?
Pica por prazer?
Lá prazer terá.
Sabe-se isso bem...
Mas se a pulga pica,
É para comer,
Não mata ninguém
O pobre animal
Precisa de sangue...
Mas é natural
Que a gente zangue
Quem dera apanha-la
Mordê-la, pisa-la!
Vai a gente ver
E ela
Já se foi...
E sempre a morder.
Será que ela
Julga
Que aquilo não dói?
E assim a pulga
Maluca, malvada,
Mas tão pequenina,
Ladina, rabina,
Que acho engraçada
LEONEL NEVES
É este animal
Que pouco se vê
E muito se sente
E a gente não gosta
Da pulga
Porquê?
A pulga,
Afinal
Só de animais gosta
E gosta da gente.
A gente que o diga...
Gosta, morde e pica.
Mas que rica amiga!
Pica
Por ser má?
Pica por prazer?
Lá prazer terá.
Sabe-se isso bem...
Mas se a pulga pica,
É para comer,
Não mata ninguém
O pobre animal
Precisa de sangue...
Mas é natural
Que a gente zangue
Quem dera apanha-la
Mordê-la, pisa-la!
Vai a gente ver
E ela
Já se foi...
E sempre a morder.
Será que ela
Julga
Que aquilo não dói?
E assim a pulga
Maluca, malvada,
Mas tão pequenina,
Ladina, rabina,
Que acho engraçada
LEONEL NEVES
Subscrever:
Mensagens (Atom)