segunda-feira, 15 de junho de 2009

João Cândido da Silva Neto

Olhos que recitam poesias,
Brilho do mar emprestado,
Colibris esvoaçantes
se buscando
Lado a lado.

Visão multicolorida,
Janelas abertas da alma,
O real e o sublime
se defrontando
Na mesma calma.

Espelhos cristalinos prisioneiros
Que à moldura facial encantam;
Líquidos poemas que se transformam
em canção.

Esmeraldas lapidadas
Na singeleza de um sorriso cativante;
Sonhos que partem rumo ao infinito...
Mas retornam.

sábado, 6 de junho de 2009

Antero de Quental

Aquela, que eu adoro, não é feita
De lírios nem de rosas purpurinas,
Não tem as formas lânguidas, divinas
Da antiga Vênus de cintura estreita

Não é a Circe, cuja mão suspeita
Compõe filtros mortas entre ruínas,
Nem a Amazona, que se agarra às crinas
Dum corcel e combate satisfeita.

A mim mesmo pergunto, e não atino
Com o nome que se dê a essa visão,
Que ora amostra ora esconde o meu destino

E como uma miragem que entrevejo,
Ideal, que nasceu na solidão,
Nuvem, sonho impalpável do Desejo

Gosto quando te calas

Gosto quando te calas porque estás como ausente,
e me ouves de longe, minha voz não te toca.
Parece que os olhos tivessem de ti voado
e parece que um beijo te fechara a boca.

Como todas as coisas estão cheias da minha alma
emerge das coisas, cheia da minha alma.
Borboleta de sonho, pareces com minha alma,
e te pareces com a palavra melancolia.

Gosto de ti quando calas e estás como distante.
E estás como que te queixando, borboleta em arrulho.
E me ouves de longe, e a minha voz não te alcança:
Deixa-me que me cale com o silêncio teu.

Deixa-me que te fale também com o teu silêncio
claro como uma lâmpada, simples como um anel.
És como a noite, calada e constelada.
Teu silêncio é de estrela, tão longinqüo e singelo.

Gosto de ti quando calas porque estás como ausente.
Distante e dolorosa como se tivesses morrido.
Uma palavra então, um sorriso bastam.
E eu estou alegre, alegre de que não seja verdade.

Pablo Neruda