sábado, 24 de janeiro de 2009

Lily

Encontravam-na até bonita Lily
Vinha da Somália Lily
Num barco cheio de imigrantes
Que vinham de boa vontade
Esvaziar o lixo de Paris
Julgava que éramos todos iguais Lily
No país de Voltaire e Victor Hugo Lily
Mas por exemplo para Debussy
É preciso duas negras para uma branca
É isso a grande diferença
Adorava de tal maneira a liberdade Lily
Sonhava com fraternidade Lily
No hotel rua Secréton
Disseram-lhe logo ao chegar
Que ali só recebiam brancos.

Descarregou caixotes Lily
Executou os trabalhos mais sujos Lily
Gritou para vender couve-flor
Na rua, os seus irmãos de cor
Acompanhavam-na com o som dos martelos pneumáticos
E quando lhe chamavam Branca de neve
Não caia na armadilha Lily
Encontrava que era divertido Lily
Mesmo se era necessário apertar os dentes
Ficariam demasiado satisfeitos
Amou um loiro de caracóis Lily
Que desejava casar com ela Lily
Mas os sogros disseram-lhe
Não somos racistas nem por um vintém
Mas não queremos cá disso na família

Experimentou a América Lily
O grande país da democracia Lily
Senão tivesse visto, não teria acreditado
Que a cor do desespero
Ali também fosse o negro
Mas numa manifestação em Memphis Lily
Em que viu Angela Davis Lily
Que lhe disse, vem minha irmã
Juntos teremos menos medo
Dos lobos que esperam o caçador
Para enfrentar os seus medos Lily
Levantou o seu punho com raiva Lily
E a criança que nascera um dia
Terá a cor do amor
Contra a qual ninguém pode nada

Emcontravam-na até bonita lily
Vinha da Somália lily
Num barco cheio de imigrantes
Que vinham da sua própria vontade
Vazar o lixo de Paris

Pierre Perret
"du rire aux larmes"

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