domingo, 11 de janeiro de 2009

A morte saiu à rua

A morte saiu à rua num dia assim,
Naquele lugar sem nome pra qualquer fim,
Uma gota rubra sobre a calçada cai,
E um rio de sangue do peito aberto sai.

O vento que dá nas canas do canavial
E a foice de uma ceifeira de Portugal,
E o som da bigorna, como o clarim do céu,
Vão dizendo dizendo em toda à parte « o pintor morreu ».

Teu sangue, pintor, reclama outra morte igual,
Só olho por olho e dente por dente vale,
A lei assassina, a morte que te matou,
Teu corpo pertence à terra que te abraçou.

Aqui te afirmamos, dente por dente assim,
Que um dia rirá quem rirá por fim,
Da curva da estrada há feitas no chão,
E em todas florirão rosas por uma nação.

Zeca Afonso

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