Eu gosto de te ouvir, oh vento!
mas não andes agora a ramalhar
ao pé de mim.
Um só momento, vento, sossegado!
Deixa-me aqui afogado
no silêncio da mata...
Porque eu sinto a minh'alma a querer falar;
porém tão em segredo fala ela
que se continuas, vento, a ramalhar,
Não consigo entendê-la...
Sebastião da Gama
sábado, 28 de novembro de 2009
quinta-feira, 19 de novembro de 2009
Multidão
Esta gente que vai e vem
de cá para lá,
e de lá para cá
que se cruza comigo,
que esbarra comigo,
que tem com certeza
os seus dramas iguais aos meus
as suas esperanças iguais as minhas,
não sabe nada da minha vida,
nem eu sei nada dos seus segredos.
cada um segue absorto em si
como se fosse de olhos fechados
e não tivesse as mãos para dar
e outras mãos desamparadas
Armindo Rodrigues
de cá para lá,
e de lá para cá
que se cruza comigo,
que esbarra comigo,
que tem com certeza
os seus dramas iguais aos meus
as suas esperanças iguais as minhas,
não sabe nada da minha vida,
nem eu sei nada dos seus segredos.
cada um segue absorto em si
como se fosse de olhos fechados
e não tivesse as mãos para dar
e outras mãos desamparadas
Armindo Rodrigues
sexta-feira, 6 de novembro de 2009
De pedra e cal
De pedra e cal é a cidade
Com campanários brancos
De pedra e cal é a cidade
Com algumas figueiras.
De pedra e cal são
Os labirintos brancos
E a brancura do sal
Sobe pelas escadas.
De pedra e cal a cidade
Toda quadriculada
Como um xadrez jogado
Só com pedras brancas.
Um xadrez só de torres
E cavalos-marinhos
Que sacodem as crinas
Sob os olhos das moiras.
Caminha devagar
Porque o chão é caiado.
Sophia de Mello Breyner Andresen
Com campanários brancos
De pedra e cal é a cidade
Com algumas figueiras.
De pedra e cal são
Os labirintos brancos
E a brancura do sal
Sobe pelas escadas.
De pedra e cal a cidade
Toda quadriculada
Como um xadrez jogado
Só com pedras brancas.
Um xadrez só de torres
E cavalos-marinhos
Que sacodem as crinas
Sob os olhos das moiras.
Caminha devagar
Porque o chão é caiado.
Sophia de Mello Breyner Andresen
domingo, 1 de novembro de 2009
Certeza
Sereno o parque espera
Mostra os braços cortados
e sonha com primavera
Com os seus olhos gelados
É um mundo que há-de vir
Naquela fé dormente
Um sonho que há-de abrir
Em ninhos e semente
Basta que um novo sol
Desça de um velho céu
E diga ao rouxinol
Que a vida não morreu.
Miguel Torga
Mostra os braços cortados
e sonha com primavera
Com os seus olhos gelados
É um mundo que há-de vir
Naquela fé dormente
Um sonho que há-de abrir
Em ninhos e semente
Basta que um novo sol
Desça de um velho céu
E diga ao rouxinol
Que a vida não morreu.
Miguel Torga
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