No comboio descendente
Vinha tudo à gargalhada
Uns por ver rir os outros
E os outros por tudo e por nada
No comboio descendente
De Queluz à Cruz Quebrada
No comboio descendente
Vinham todos à janela
Uns calados para os outros
E os outros a dar-lhes trela
No comboio descendente
Da Cruz Quebrada a Palmela
No comboio descendente
Mas que grande reinação!
Uns dormindo, outros com sono
E outros nem sim nem não
No comboio descendente
De Palmela a Portimão.
Fernando Pessoa
sábado, 29 de agosto de 2009
quarta-feira, 26 de agosto de 2009
Dia feriado
certo dia
ao meio-dia
à hora de ponta
um carro eléctrico
resolveu
fazer feriado
por sua conta...
Estou farto
farto de trabalhar
hoje quero ir passear
Dizem que se esta bem
no jardim de Belém
pois vou até lá
e vou já a correr
sem querer saber
do que possam dizer
nas paragens,
reinava a maior confusão.
seria alguma aflição?
Onde iria um eléctrico vazio
a correr naquele corrupio?
Quando chegou a Belém
o eléctrico
para não dar nas vistas
misturou-se com os turistas.
Visitou os monumentos
e ouviu uma guia
muito apressada
fazer da historia
grande baralhada.
deixou os turistas
e ainda bem
pois foi comer
pastéis de Belém
Comeu meia centena
com açúcar e canela
e depois voltou a passear
e foi ver o mar...
Ao cair a noite
regressou a Lisboa
pela beira-rio
sem um lugar vazio
e muito contente
como toda a gente
que de vez em quando
em vez de trabalhar
vai ler o mar...
Maria Cândida Mendonça
ao meio-dia
à hora de ponta
um carro eléctrico
resolveu
fazer feriado
por sua conta...
Estou farto
farto de trabalhar
hoje quero ir passear
Dizem que se esta bem
no jardim de Belém
pois vou até lá
e vou já a correr
sem querer saber
do que possam dizer
nas paragens,
reinava a maior confusão.
seria alguma aflição?
Onde iria um eléctrico vazio
a correr naquele corrupio?
Quando chegou a Belém
o eléctrico
para não dar nas vistas
misturou-se com os turistas.
Visitou os monumentos
e ouviu uma guia
muito apressada
fazer da historia
grande baralhada.
deixou os turistas
e ainda bem
pois foi comer
pastéis de Belém
Comeu meia centena
com açúcar e canela
e depois voltou a passear
e foi ver o mar...
Ao cair a noite
regressou a Lisboa
pela beira-rio
sem um lugar vazio
e muito contente
como toda a gente
que de vez em quando
em vez de trabalhar
vai ler o mar...
Maria Cândida Mendonça
terça-feira, 25 de agosto de 2009
Destino
à ternura pouca
me vou acostumando
enquanto me adio
servente de danos e enganos
vou perdendo morada
na súbita lentidão
de um destino
que me vai sendo escasso
conheço a minha morte
seu lugar esquivo
seu acontecer disperso
agora
que mais
me poderei vencer?
Mia Couto
me vou acostumando
enquanto me adio
servente de danos e enganos
vou perdendo morada
na súbita lentidão
de um destino
que me vai sendo escasso
conheço a minha morte
seu lugar esquivo
seu acontecer disperso
agora
que mais
me poderei vencer?
Mia Couto
domingo, 23 de agosto de 2009
Caracol
Bato à porta. Ninguém diz:
"Pode entrar", faça favor!"
Não há degrau, não há voz
Nem há fumo nem calor.
É a casa do caracol,
Não esta pintada a cal
E no entanto brilha ao sol
Na sua forma espiral.
Bato à porta, não há porta
Só um buraco profundo
Um túnel que há-de acabar
No centro daquele mundo.
O caracol foi-se embora
Porque mudou de espiral?
Porque foi mudar de casa
Sem recado nem sinal?
Maria Alberta Menéres
"Pode entrar", faça favor!"
Não há degrau, não há voz
Nem há fumo nem calor.
É a casa do caracol,
Não esta pintada a cal
E no entanto brilha ao sol
Na sua forma espiral.
Bato à porta, não há porta
Só um buraco profundo
Um túnel que há-de acabar
No centro daquele mundo.
O caracol foi-se embora
Porque mudou de espiral?
Porque foi mudar de casa
Sem recado nem sinal?
Maria Alberta Menéres
sábado, 22 de agosto de 2009
Caminhada
Nessa mata ninguém mata
a pata que vive ali
com duas patas de pata
pata acolá, pata aqui.
Pa ta que gosta de matas
visita as matas vizinhas
com as suas duas patas
seguidas de dez patinhas.
E cada patinha tem,
como a pata lá da mata,
duas patinhas também
que são patinhas de pata.
Sidónio Muralha
a pata que vive ali
com duas patas de pata
pata acolá, pata aqui.
Pa ta que gosta de matas
visita as matas vizinhas
com as suas duas patas
seguidas de dez patinhas.
E cada patinha tem,
como a pata lá da mata,
duas patinhas também
que são patinhas de pata.
Sidónio Muralha
sexta-feira, 21 de agosto de 2009
Pois eu gosto de crianças
Pois eu gosto de crianças!
Já fui criança também...
Não me lembro de o ter sido;
O que fui sabe-me bem.
É como se de repente
A minha imagem mudasse
No cristal de uma nascente
E tudo o que sou voltasse
À pureza da semente
Miguel Torga
Já fui criança também...
Não me lembro de o ter sido;
O que fui sabe-me bem.
É como se de repente
A minha imagem mudasse
No cristal de uma nascente
E tudo o que sou voltasse
À pureza da semente
Miguel Torga
quarta-feira, 19 de agosto de 2009
Afirmação

Hei-de cantar este sol este poente
esta terra lavrada pelo mar
este povo que amassa docemente
o pão espesso e escuro. Hei-de cantar
o eco das origens destas rochas
sólidas e puras. Deste chão em forma
de poema onde a nossa luz nascente
é a voz da manhã tépida e morna
hei-de cantar os búzios e as conchas. Areais
de corpos que se entregam. Acácias carmesim
divinizadas. Que mais
posso cantar?
Talvez o nada que há em mim…
Olinda Beja
in: Água Crioula
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