meu Natal de doce infância
de muitos longes daqui
onde o palmar tem fragrância
de aromas de abacaxi
onde o sol rei e senhor
nos fustiga impunemente
e nos tinge de outra cor…
escárnio de muita gente
meu outro Natal de pinho
bem diferente do primeiro
onde quem vive sozinho
esquenta a alma num braseiro
casas de pedra e de fumo
lareiras de sonhos vãos
outros cheiros que presumo
serem cheiros de outros chãos
meu este Natal de neve
tão diferente dos demais
onde o sonho (mesmo breve)
ainda sonha outros Natais!
OLINDA BEJA
Lausanne, Dezembro de 2011
sexta-feira, 16 de dezembro de 2011
domingo, 21 de agosto de 2011
Cores de parto
O que eu vi,
À nascença, foi o céu.
No rasgão da retina,
A desatada luz: o meu segundo oceano.
Aprendi a ser cego
Antes de, em linha e em cor,
O mundo se revelar.
O que depois vi,
Ainda sem saber que via,
Foram as mãos.
Parteiros gestos
Me ensinaram quanto,
Das mãos,
A vida inteira vamos nascendo.
As mãos foram,
Assim, o meu segundo ventre.
Luz e mãos
Moldaram a impossível fronteira
Entre oceano e o ventre.
Luz e mãos
Me consolaram
Da incurável solidão de ter nascido.
Mia couto
In “Tradutor de chuvas”
segunda-feira, 9 de maio de 2011
sábado, 12 de março de 2011
PIED-DE-NEZ

PIED-DE-NEZ
Lá anda a minha Dor as cambalhotas
No salão de vermelho atapetado —
Meu cetim de ternura engordurado,
Rendas da minha ânsia todas rotas...
0 Erro sempre a rir-me em destrambelho —
Falso mistério, mas que não se abrange...
De antigo armário que agoirento range,
Minha alma actual o esverdinhado espelho...
Chora em mim um palhaço às piruetas;
0 meu castelo em Espanha, ei-lo vendido —
E, entretanto, foram de violetas,
Deram-me beijos sem os ter pedido...
Mas como sempre, ao fim — bandeiras pretas,
Tômbolas falsas, carrossel partido...
Mário de Sá-Carneiro
Paris, Novembro de 1915
Lá anda a minha Dor as cambalhotas
No salão de vermelho atapetado —
Meu cetim de ternura engordurado,
Rendas da minha ânsia todas rotas...
0 Erro sempre a rir-me em destrambelho —
Falso mistério, mas que não se abrange...
De antigo armário que agoirento range,
Minha alma actual o esverdinhado espelho...
Chora em mim um palhaço às piruetas;
0 meu castelo em Espanha, ei-lo vendido —
E, entretanto, foram de violetas,
Deram-me beijos sem os ter pedido...
Mas como sempre, ao fim — bandeiras pretas,
Tômbolas falsas, carrossel partido...
Mário de Sá-Carneiro
Paris, Novembro de 1915
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